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Carta de despedida de uma CEO

No dia primeiro de setembro, deixei o cargo de CEO da “Jurídico Já” e “123JUS”. Há seis anos, nascia a “Jurídico Já”, uma startup lawtech com o propósito de transformar as formas de contratação no mercado jurídico. Anos depois, mudamos o nome para “123JUS”. Nunca imaginei que teria uma startup. Até dez anos atrás, eu sequer sabia o que isso significava, muito menos pensava em ser CEO – esse termo americano que define quem lidera uma empresa. Mas eu sempre soube que minha trajetória seria diferente – e realmente foi.

Em 2016, como advogada em um escritório em ascensão, percebi a dificuldade de contratar advogados para audiências e cópias em outras cidades. Cada um cobrava um preço diferente; eram muitas pessoas para administrar e pagar ao fim do mês. Inconformada com essa situação, resolvi que a solução seria um aplicativo que ajudasse os profissionais a se organizarem e os contratantes a terem mais controle. A caminho de uma reunião para apresentar minha ideia, me perguntaram o nome da minha startup para liberar minha entrada. Sem saber exatamente o que era uma startup, prontamente respondi: Jurídico Já. Ali nascia uma nova empresa e, junto com ela, uma CEO. Lembro que aluguei uma pequena sala ao lado do meu grande escritório, em pouco tempo a pequena sala estava cheia de pessoas e já faturava o dobro do escritório.

Preciso confessar que, quando comecei, não me senti confortável com o título de CEO. Eu era apenas uma jovem advogada com uma ideia, e a ideia de me auto intitular CEO parecia presunçosa. É comum ver pequenas empresas, às vezes com uma ou duas pessoas, e alguém se intitulando CEO. No meu caso, só me senti realmente no comando de uma empresa anos depois. Tive que aprender muito: o que era uma startup, como fazer pitchs, ganhei prêmios, recebi mais de meio milhão de reais em investimentos, viajei para o exterior, apresentei a empresa para pessoas que nunca imaginei conhecer e fechei diversas parcerias. Fiz MBA para aprender mais sobre marketing, ingressei no mestrado de inovação e, anos depois, me vi em palcos compartilhando minha jornada com outros empreendedores.

Com 30 anos, eu tinha um carro importado, 30 funcionários, viajava o mundo e era constantemente convidada para palestras. Tudo parecia perfeito, mas havia algo fora de controle: nosso crescimento. Parece estranho, mas crescer pode ser um problema. Começamos a receber muitos novos clientes, contratar mais pessoas, e isso parecia incrível. Mas não me atentei para planejar esse crescimento e, logo, começamos a ter problemas de fluxo de caixa, a perder a qualidade nos atendimentos, e tudo começou a desmoronar. Diante do cenário, as opções eram poucas e nenhum dos caminhos me agradava: eu poderia desistir ou recomeçar.

Recomecei com um quinto do número de funcionários, dispensei alguns clientes e foquei em um número menor de serviços, todos em home office. A estratégia foi simples: cortar custos e focar nas melhores fontes de receita. Não foi fácil desistir de meio andar decorado em endereço nobre de Belo Horizonte, mas com as mudanças conseguimos ganhar eficiência e atingir 50% do faturamento anterior, com uma redução de mais de 80% nas despesas. E o que eu mais pensava era: por que não fiz isso antes? No entanto, algo se perdeu – o sonho. Aprendi que tudo tem um custo, ter sucesso custa seu empenho, ter dinheiro custa seu tempo e recomeçar custa seus sonhos. Em janeiro de 2023, percebi que havia perdido a capacidade de sonhar. Como diria o escritor Valter Hugo Mãe: “É preciso viver encantado!

Decidi que era hora de traçar um novo caminho, acreditando que, em algum momento, eu voltaria a me encantar. Passei por um período de autoconhecimento, de entender no que eu era boa, o que não fazia mais sentido e como eu me imaginava nos próximos anos. Sempre gostei de ensinar, mas o plano de fazer um mestrado ficava para depois. Resolvi me inscrever, e das quatro vagas disponíveis no mestrado em Inovação Tecnológica da UFMG, uma foi minha. Além disso, participei de um desafio e, no final, ganhei três dos quatro troféus. Essa visibilidade atraiu um investidor, que propôs investir em um dos meus negócios. Graças a isso, montei uma hamburgueria. Mas ainda não era o suficiente; eu continuava como CEO da Jurídico Já, sem a mesma energia e alegria de antes.

Inscrevi a empresa em um desafio, onde 20 startups seriam selecionadas para uma imersão na Europa. Fui uma das escolhidas. Lá, fiz contatos, aprendi muito e encontrei uma empresa interessada em comprar a Jurídico Já. Após meses de negociações, assinamos o contrato.

Existem dois finais felizes para uma startup: escalar o negócio e se tornar uma grande empresa ou ser vendida para uma maior, que vai incorporar o produto. Esse foi o meu final feliz. Vendi a empresa para uma empresa bem maior, da qual agora sou colaboradora. O mais interessante é que o CEO dessa empresa nos disse que o que ele estava comprando não era o negócio em si, mas as pessoas que o compunham.

Quando eu era adolescente, em uma apresentação, tínhamos que dizer o que queríamos da vida. Respondi que queria uma vida bem vivida. Esses anos como CEO me proporcionaram exatamente isso. Muitas pessoas me dizem que eu nasci para empreender, mas isso não é verdade. Até os 16 anos, eu não conhecia ninguém que tivesse sequer um curso superior ou um negócio de sucesso; todas as pessoas ao meu redor eram simples. Na verdade, nasci para ter uma vida comum, como a maioria e não há demérito nisso, mas não foi assim que aconteceu. Perdi a conta de quantas vezes fiz o impossível, vivi momentos incríveis, viajei, aprendi e conheci pessoas incríveis. Sem nenhuma presunção tenho certeza de que impactei positivamente a vida de centenas de pessoas ao compartilhar conhecimento e, mais importante que tudo, recuperei minha capacidade de sonhar.

Hoje, me despeço do cargo de CEO da Jurídico Já com imensa alegria, orgulho dessa jornada incrível, gratidão e uma profunda sensação de dever cumprido. Continuo encantada com a vida e com os desafios que ela proporciona.


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Gracielle Santos

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