Os desfiles de Ronaldo Fraga são, de fato, muito mais do que um “fashion show”. Suas apresentações são como uma sala de aula, mais precisamente de história, e você sempre sai do desfile com uma deliciosa sensação de que o dia foi produtivo, isto é, você aprendeu algo muito mais profundo do que apenas o que “será a tendência na próxima temporada”.
E é nesta busca por apresentar coleções concretas, que nosso orgulho mineiro trouxe para este verão um pouco da paixão brasileira: o futebol. Há quem pense que a época é propícia, já que logo começa no Brasil a Copa das Confederações.
Mas, a gente prefere voltar nosso olhar para o aprendizado e para a reflexão. Em uma época em que os uniformes de futebol mais parecem outdoors, com tantos anunciantes, Ronaldo faz uma viagem à década de 30 e redescobre uma indumentária muito mais atrativa e com personalidade.
“Eu tenho um filho de 11 anos que é enlouquecido com futebol. Deve ter uns 5 anos que ele sempre me pede para fazer uma coleção inspirada neste tema. E ano passado, no centenário de Nelson Rodrigues, tive a chance de reler seu livro que fala sobre futebol e ele é maravilhoso”, explica. Assim, Ronaldo percebeu que este era o melhor momento para criar esta coleção. “Quero estimular outros olhares e também uma análise crítica sobre o futebol no Brasil”, completa.
Para Ronaldo, este momento é oportuno para rever nossa história e entender a importância do futebol como ferramenta agregadora da nossa nação. “O pulso firme do preconceito racial da elite branca e os muros dos estádios não foram fortes o bastante para impedir que o futebol ganhasse as ruas, as periferias e as várzeas país a fora. Jogado em campos de terra, com bolas de meia e jogadores descalços, o esporte ganha contornos exclusivamente brasileiros e se torna a primeira vitória de apropriação apaixonada de um Brasil mestiço”.
Ah! E sobre a coleção desfilada? Destaque para as peças em P&B, que abriram o desfile, e para os modelos que ganharam listras, ora grossas, ora finas. Vale ressaltar também os brasões com corações, que retratam esta paixão dos brasileiros pelo esporte. Para finalizar o desfile, surge uma família toda em neon, em que cadarços, costurados lado a lado, ajudam a construir saias, vestidos longos e regatas. O que queremos? Os blazers!
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