É inegável que adoramos essas temporadas de premiações da TV e do cinema para conferir os looks exuberantes que passam pelo red carpet. Mas, nesse ano, as produções – tanto de roupas, quanto as que concorrem aos prêmios – vão ficar em segundo plano.
Daqui a alguns anos, você poderá não se lembrar quem ganhou o Globo de Ouro de Melhor Série e nem qual atriz mais brilhou no tapete vermelho, mas certamente não esquecerá que essa edição foi marcada pela força e união feminina.
Após as diversas denúncias de assédio em Hollywood que ganharam os noticiários em 2017, mais de 300 atrizes e funcionárias se uniram no movimento Time´s Up, razão pelo qual o preto reinou ontem no red carpet.
E não se engane: o dress code não é uma manifestação superficial e vai muito além da cor de um vestido. A iniciativa possui um fundo de cerca de 11 milhões de euros para ajudar mulheres financeiramente desfavorecidas que sofreram assédio sexual no trabalho e entraram em ações contra seus agressores.
Meryl Streep, Ai-jen Poo, Natalie Portman, Tarana Burke, Michelle Williams, America Ferrera, Jessica Chastain, Amy Poehler e Saru Jayaraman (Photo | AP)
Algumas atrizes que encabeçam a ação chegaram ao evento acompanhadas de ativistas pelos direitos das mulheres. Meryl Streep, por exemplo, convidou Ai-Jen Poo, que defende os direitos das trabalhadoras domésticas, enquanto Emma Watson chegou com Marai Larasi, diretora executiva da Imkaan, uma rede britânica que luta contra a violência a mulheres negras. Já Michelle Williams levou Tarana Burke, fundadora do movimento #MeToo e diretora da organização sem fins lucrativos Garotas pela Equidade de Gênero.
Ontem foi uma noite especial em Hollywood. As estrelas que tanto admiramos na tela da TV e do cinema mostraram que o tempo de silêncio realmente acabou e elas irão fazer muito barulho para mudar o cenário de assédio e desigualdade para a mulher na indústria do entretenimento. Do red carpet aos discursos de agradecimento, não faltaram falas fortes e empoderadas que reforçaram isso.
Esses foram os maiores destaques da noite:
Debra Messing
Com certeza, o canal E! se arrependeu de entrevistar a atriz no tapete vermelho. Em entrevista à Giuliana DePandi, Debra falou: “Queremos diversidade, queremos a paridade de gênero, queremos pagamento igual. Fiquei tão chocada ao saber que o E! não paga suas apresentadoras mulheres tanto quanto paga aos seus apresentadores homens”.
Nicole Kidman
O primeiro prêmio da noite, de melhor atriz em minissérie ou filme para a TV, foi para Nicole, pelo seu forte papel na maravilhosa série “Big Little Lies“. Sua personagem é uma mulher que para todos na cidade tem a vida perfeita, mas que na verdade sofre violência e abuso do marido. Em seu discurso, a atriz disse: “A minha personagem representa algo que é o centro da nossa conversa atualmente: o abuso. Acredito que podemos provocar mudanças com as histórias que contamos e com a maneira como as contamos. Vamos manter esta conversa viva”.
Laura Dern
“Big Little Lies” também deu o prêmio de melhor atriz coadjuvante para Laura Dern, que também apresentou um discurso em harmonia com o clima da noite: “Big Little Lies’ me deu a oportunidade de interpretar a mulher mais escandalosa e complicada, uma mãe aterrorizada. Aterrorizada porque sua filha estava sendo abusada e intimidada, e tinha medo de falar. Muitas de nós fomos ensinadas a não dedurar os colegas. Uma cultura de silenciamento que foi normalizada. Eu peço que todos nós não somente apoiemos as vítimas que são corajosas o suficiente para dizer a verdade, mas também promovamos uma justiça reparativa. Que também possamos protegê-las e empregá-las. Que ensinar nossas crianças a falar sem ter medo da retaliação seja o novo norte da nossa cultura”.
Natalie Portman
Natalie Portman é um dos nomes que mais apoia o movimento Times Up e, ao anunciar os indicados da categoria de melhor direção, ela ironizou o fato de não terem mulheres disputando a estatueta e disse: “Estes são todos os homens indicados”. Um shade daqueles!
Elizabeth Moss
O prêmio de Melhor Atriz em Série Dramática ficou para Elizabeth Moss, por seu papel forte em “The Handmaid’s Tale”. A série tem tudo a ver com esse momento de discussão do papel da mulher na sociedade e no seu agradecimento a vencedora disse: “Margareth Atwood, isso é para você. E para todas as mulheres que vieram antes e depois de você, que eram corajosas o suficiente para falar contra a intolerância e a injustiça e lutar pela igualdade e liberdade neste mundo. Nós não vivemos mais nos espaços em branco na borda da impressão. Já não vivemos nas lacunas entre as histórias. Nós somos a história impressa e estamos escrevendo a história nós mesmas”.
Oprah Winfrey
Sem dúvidas, o momento mais forte e emocionante ficou para a grande homenageada da noite, a atriz e apresentadora Oprah Winfrey, que recebeu o troféu Cecil B. DeMille, entregue pelo conjunto da obra, sendo a primeira mulher negra a ganhar o reconhecimento.
A diva maravilhosa deixou todos com lágrimas nos olhos com seu discurso inspirador. Ele foi bem grande, mas cada palavra mostra um muito da luta e vale a pena ser lido, curtido e compartilhado:
“Eu sei que, neste momento, há algumas garotinhas assistindo eu me tornar a primeira mulher negra a receber esse mesmo prêmio. É uma honra – é uma honra e é um privilégio compartilhar a noite com todas elas e também com os incríveis homens e mulheres que me inspiraram, que me desafiaram, que me apoiaram e fizeram minha jornada até esse ponto possível. (…)
E eu estou especialmente orgulhosa e inspirada por todas as mulheres que se sentiram fortes o suficiente e empoderadas o suficiente para falar e compartilhar suas histórias pessoais. Cada um de nós nesta sala é celebrado por causa das histórias que contamos e este ano nós nos tornamos a história. O que eu sei com certeza é que falar sua verdade é a ferramenta mais poderosa que todos nós temos. (…)
Então, eu quero hoje expressar gratidão a todas as mulheres que sofreram anos de abuso e agressão porque elas, como minha mãe, tiveram filhos para se alimentar e contas a pagar e sonhos para perseguir. São as mulheres cujos nomes nunca conheceremos. São trabalhadoras domésticas e trabalhadoras agrícolas. Elas estão trabalhando em fábricas, em restaurantes, estão nas universidades, engenharia, medicina e ciência. Elas fazem parte do mundo da tecnologia, da política e dos negócios. Elas são nossos atletas nas Olimpíadas e elas são nossas soldadas nas forças armadas. (…) Por muito tempo, não ouviam as mulheres, ou não acreditavam nelas quando ousavam falar a verdade sob o poder desses homens. Mas esse tempo acabou. Esse tempo acabou. (…)
Então eu quero todas as garotas assistindo aqui, agora, saibam que um novo dia está no horizonte! E quando esse novo dia finalmente amanhecer, será por causa de muitas mulheres magníficas, muitas das quais estão aqui neste auditório esta noite e alguns homens fenomenais, lutando para garantir que se tornem os líderes que nos levam ao tempo em que ninguém nunca mais terá de dizer “Eu também”.
Que esse seja apenas o primeiro capítulo de uma temporada de mudanças em Hollywood e no mundo!
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.