Quem nunca sentiu medo diante de um novo projeto ou de um desafio? Para os empreendedores ele é tipo um amigo que sempre aparece para dar um “oi”. Confesso: nas últimas semanas tenho sido constantemente visitada por ele. Isso porque vou abrir um novo negócio no ramo alimentício, algo que precisa atender regras que não fazem parte do meu dia a dia, como autorização do Corpo de Bombeiros para circulação ou mesmo de quanto em quanto tempo devo trocar o óleo usado nas frituras. A chave para o sucesso e ter coragem para encarar o desconhecido é aprender a usar o medo a meu favor. Na teoria eu sei disso muito bem, mas agora na prática assumo que preciso de ferramentas para me ajudar. E é sobre estes poderosos recursos que quero tratar nesse texto.
A primeira ferramenta para lidar com o medo é classificá-lo. Eu costumo dividir meus medos em três categorias: fisiológico, desconhecimento e insegurança. Costumo me perguntar se existe alguma sensação fisiológica independente no meu corpo acontecendo e se estou confundindo-a com medo. Imagine-se subindo uma escada para chegar a uma reunião importante, o seu coração acelerado é medo ou simplesmente reflexo do esforço? Você pode se confundir e pensar que está nervoso para a reunião, mas isso provavelmente vai desencadear um nervosismo que as vezes não teve como gatilho uma insegurança, mas algo de âmbito fisiológico.
Por outro lado, o medo também pode ser por desconhecimento. É normal se sentir com medo quando não estamos preparados para desempenhar uma tarefa. Para esse medo a melhor ferramenta é o preparo. A saída é estudar sobre aquilo que não sabemos tão bem e tentar minimizar os riscos associados.
Existe também o medo causado pelas nossas inseguranças. Aquelas crenças que cada um carrega e faz interpretar a realidade a seu próprio modo são muito potentes. Aqui uma boa ferramenta é lembrar dos seus méritos, das coisas que já realizou e afastar esse medo através da sua autoconsciência de capacidade.
Quando você classifica seu medo algo incrível acontece: você consegue escolher como vai agir de acordo com cada situação. O meu mais novo desafio tem me causado muito medo: abrir uma hamburgueria. Assumo que até o momento já pude viver todos os tipos de medo que vocês possam imaginar. Primeiro me vi com um medo que todos conhecem: “e se não der certo?”. Passados alguns dias com esses pensamentos, resolvi tirar uma tarde para refletir, “afinal, porque poderia dar errado? Pensei.” Comecei a dividir em partes meu medo e depois classificar cada uma etapa.
Tinha medo de arcar com as multas de rescisão do contrato de aluguel se o negócio não der certo, então resolvi conversar com a imobiliária e conseguimos isenção da multa no primeiro ano. Assim esse medo perdeu força e já não ocupa mais meus pensamentos. Era um medo ligado a algo que poderia acontecer e agora eu tenho previsibilidade. Agora sei que se em um ano o negócio não der certo, posso devolver o imóvel sem multa, o que diminuiria eventual prejuízo.
Outra parte do meu medo era por não conhecer regras da Vigilância Sanitária, Corpo de Bombeiros, armazenamento de alimentos e tantas outras questões. Aprendi ao longo da minha vida de empreendedora que não temos que saber tudo, temos de aprender a ter um comportamento empreendedor que funciona, ou seja: ir buscar o que nos falta. Então, dividi essas dúvidas em algumas áreas e para a questão estrutural chamei uma arquiteta para ver comigo as regras que eu precisava observar na obra que estávamos prestes a começar. Para as questões sanitárias contratei uma consultoria profissional que me ajudou a fazer um projeto de funcionamento e operação. Sobre a cozinha fiz uma estratégia interessante: chamei uma empresa especializada que fez o projeto sem custo e, em troca, comprei os equipamentos com eles. Também investimos em contratar um gerente experiente para o negócio. Pronto, me senti mais segura e esse medo baseado em desconhecimento perdeu força.
Mesmo assim, percebi que ainda tenho, vez ou outra, algum questionamento interno: “e se não der certo? ”. Mas porque continuo com esse temor? A resposta é simples: trata-se da terceira classificação, a insegurança! Quando empreendemos não podemos prever tudo e isso causa medo, duvidamos da nossa capacidade, não sabemos se o mercado vai acolher nossa ideia ou se as vendas serão como prevíamos. Esse é o medo baseado na insegurança. E não se engane: ele está em todos nós, até mesmo nos empreendedores de sucesso que admiramos pelas redes sociais. Para esse tipo de medo, a solução é não deixar que ele nos paralise.
Ao contrário do que é popular, medo nem sempre é um coisa ruim, veja bem, se eu não tivesse medo, provavelmente teria meu negócio interditado pelos Bombeiros ou Vigilância Sanitária no primeiro mês. Não é pessimismo, temos que gerenciar os riscos, eles existem!
É muito importante não fingirmos que não temos medo. É importante pedir ajuda quando necessário e analisar cada vez que nos sentirmos desconfortáveis e investigar o real motivo desse desconforto. Não podemos entender o medo como uma coisa só, ele pode ser um alerta para algo que não observamos ou pode ser só nossa insegurança. Para cada tipo podemos escolher uma estratégia diferente!
De tudo isso, o mais importante é que, ao seguir em frente, gerencie os riscos e não deixe a vida passar sem tentar viver os seus sonhos por conta do medo! O empreendedorismo carrega em si desafios constantes: a busca por fazer melhor e fazer de novo o que for preciso. Não é de se estranhar que medos estejam presentes nessa jornada empreendedora.
O que eu quero é uma vida bem vivida! O contrário disso me dá medo e para esse tipo de medo eu não tenho classificação.
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