Turista

Como é viajar de avião durante a pandemia?

Relato da Chef Lu Fraga, que estava no Brasil e precisou voltar para a Suíça, país onde reside.

Uma coisa é certa, nossas vidas mudaram – e muito! Moro na Europa e, em meio à pandemia, a empresa que trabalho fechou suas portas durante vários meses. Por motivos familiares e pelo fato de poder estar junto a eles durante a quarentena, decidi viajar ao Brasil. Em um momento em que uma simples ida ao mercado já é uma aventura, imagine fazer uma viagem internacional? Como eu, muitos brasileiros se encontravam na mesma situação (alguns retornando ao seu país em busca de uma nova vida e muitos outros que precisavam estar com seus familiares.

Imagine estar do outro lado do mundo, sabendo que um familiar se encontra em um estado de saúde ruim e não poder estar presente? Com certeza essa pandemia criou situações em que jamais imaginamos passar… Uma colega de viagem estava indo ao encontro de sua mãe que havia acabado de ser diagnosticada com câncer terminal. A decisão de se arriscar pegando trens, voos e taxis não é fácil, a tensão era “palpável” no voo e todos estavam tentando se proteger, na medida do possível.

Infelizmente o voo estava lotado, talvez 90% de ocupação, o que foi uma surpresa para todos nós, já que a tão falada distância social, que no aeroporto era mandatório, se tornou impossível dentro do avião. Os atendentes de bordo estavam visivelmente preocupados! Não houve nenhum tipo de serviço a bordo. Apenas um pacote com água, refrigerante, sanduíche, biscoitos e frutas foi deixado no assento de cada passageiro – foi a única alimentação fornecida para a viagem de aproximadamente 12h.

Esse é o relato de como foi viajar no início de maio, quando praticamente o único aeroporto fazendo o trajeto para o Brasil era o de Amsterdam. Para quem não sabe, o aeroporto de Amsterdam é enorme! Porém, no dia do embarque, estava muito diferente: suas lojas fechadas, restaurantes fechados e com uma única lanchonete atendendo a todos os passageiros que conseguiriam voar nos dois voos disponíveis naquele dia. A chegada foi em São Paulo e o desembarque foi um alívio. Ali eu começava uma quarentena para só então, depois de vários longos dias, poder encontrar minha família.

Vivi dias incríveis e necessários ao lado dos meu queridos e logo se iniciou o retorno para mais uma jornada de aviões. Aqui se inicia o relato de como foi viajar no final de junho. Dessa vez estava mais confiante, sentia que até mesmo a companhia aérea teria mais consciência e não lotaria os voos. Estava certa: embarquei no Galeão, no Rio de Janeiro, e consegui três assentos livres, onde pude manter a distância social e chegar descansada na Europa.

O voo tinha o mesmo pacote com água, refrigerante, sanduíche, biscoitos e frutas, porém dessa vez foi servida uma refeição quente. O aeroporto de Amsterdam estava operando vários voos, inclusive internacionais, e as lojas e restaurantes estavam abertos, com medidas de segurança sendo tomadas.

Aeroporto do Galeão e Aeroporto de Amsterdã – Ambos vazios

Uma coisa é certa: dentre vários aprendizados durante a pandemia, um que me chama muito a atenção é que damos mais valor ao simples, ao quotidiano, a refeição quente servida num voo longo, que traz conforto em meio à tantas incertezas…

Por enquanto brasileiros ainda não podem viajar para a Europa. Porém, quando o momento chegar e que, enfim, iremos viver o tal “novo normal”, com certeza valorizaremos a liberdade, a experiência e os momentos da viagem de uma maneira muito mais real.

Crédito fotos: Toby Melville/Reuters (foto de capa) e Lu Fraga

Relato da Chef Lu Fraga, que estava no Brasil e precisou voltar para a Suíça, país onde reside.

Redação

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